Os assassinatos passaram longe de quatro cidades pernambucanas em 2009. Camutanga, na Mata Norte do Estado, Terezinha, no Agreste, Tuparetama e Solidão, ambas no Sertão do Pajeú, não tiveram nenhum assassinato durante todo o ano passado. Em comum entre esses municípios, a pequena população, que não ultrapassa os 10 mil habitantes.
As recorrentes cenas de crimes no Estado, vistas pela televisão, parecem coisa de outro mundo para a costureira aposentada Sebastiana Calado da Silva, 76 anos, moradora de Terezinha desde quando a cidade era só um povoado, em 1934. “Eu nunca presenciei nem fui vítima de assalto. Quando furtam um carro aqui, a cidade toda fica sabendo”, conta ela, que define o município onde criou os cinco filhos como “um pedacinho do céu”. Não foi à toa que apenas um dos filhos mudou dali depois de adulto, mas para bem pertinho, em Garanhuns, “onde já tem crime, morte, assalto, essas coisas”, diz Sebastiana.
Nem sempre foi assim. Nos anos 70 e 80, a cidade foi tomada pela pistolagem. Morreram todos os pistoleiros, pertencentes à mesma família. A paz, dos tempos de vilarejo, foi voltando aos poucos. Em 1990, o município registrou 12 assassinatos. A queda foi gradual e, nos últimos dez anos, a cidade registrou entre um e cinco homicídios anuais.
“Hoje, o que temos mais aqui são pequenos furtos, de animais, nas feiras livres, e brigas de vizinhos”, relata o delegado titular do município, Jonas Antônio Fraga. Ele conta que o trabalho da polícia na cidade é voltado principalmente para evitar que pequenas brigas acabem em morte.
O diretor-geral de Operações da Polícia Civil, delegado Osvaldo Morais, relata que uma das políticas de segurança que possibilita que cidades do interior consigam índice zero de homicídios é justamente a prática de evitar que ameaças se concretizem. “É uma operação estabelecida no ano passado, que dá resultado, principalmente nos municípios menores. Quando há uma ameaça, a pessoa que ameaçou é chamada na delegacia, presta depoimento e isso pode impedir que um desentendimento acabe em homicídio”, diz Osvaldo Morais.
Policiais da cidade de Camutanga afirmam que o papel da população, sempre em contato com a polícia, é muito importante para evitar os crimes. “Aqui, como é cidade pequena, dá muito bem para o policiamento estar no local antes das coisas acontecerem. Trabalhamos preventivamente, em conjunto com a população”, afirma a comissária Angela Lúcia Bezerra Lins.
Apesar da queda de 12,2% no número de homicídios em Pernambuco em 2009, em 2008 houve uma quantidade maior de cidades com índice zero de homicídios. Nenhuma delas, porém, conseguiu repetir a marca no ano passado. Cedro, um dos municípios sem assassinatos no ano retrasado, teve duas mortes em 2009. “Íamos indo bem até novembro. Veio o fim do ano e aconteceram dois casos, um homicídio e um latrocínio”, lamentou a delegada da cidade, Fabiana Camargo. Para Osvaldo Morais, quanto menos crimes ocorrem nos municípios, mais os policiais e a população se sentem incentivados a trabalhar para manter os índices baixos.
Fonte: Jornal do Commercio